O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou um alerta que fizera por mais de uma vez e anunciou neste domingo a proibição da entrada de brasileiros e de demais não americanos que estiverem no Brasil por causa do descontrole do coronavírus no país.
A decisão consta de um decreto assinado pelo próprio Trump, que estipula que cidadãos não americanos que tenham estado no Brasil nos 14 dias anteriores à tentativa de ingressar nos EUA serão impedidos de fazê-lo. A decisão é válida a partir da próxima sexta-feira, dia 29 de maio, e vai vigorar por tempo indeterminado, até decisão em contrário do próprio chefe da Casa Branca.
No decreto, Trump diz que “considera que a entrada irrestrita nos EUA de pessoas descritas na seção 1 deste decreto é (…) prejudicial aos interesses dos EUA, e que sua entrada portanto deve estar sujeita a certas restrições, limitações e exceções”.
“Hoje, o presidente tomou uma ação decisiva para proteger nosso país suspendendo a entrada de estrangeiros que estiveram no Brasil durante o período de 14 dias antes de buscarem entrar nos EUA. Até o dia 23 de maio de 2020, o Brasil tem 310.087 casos confirmados de Covid-19, o terceiro maior número de casos confirmados no mundo. A ação de hoje vai ajudar a garantir que estrangeiros que estiveram no Brasil não se tornem uma fonte adicional de infecções em nosso país”, diz o comunicado divulgado pela Casa Branca.
O texto afirma que a decisão não se aplica ao fluxo comercial entre os dois países, que será mantido.
Trump já proibira antes viagens de Europa, Reino Unido e China, lugares atingidos fortemente pelo vírus. O Brasil é o único país da America do Sul a sofrer tais restrições.
Havia, antes da decisão, apenas nove voos semanais em operação entre Brasil e EUA, todos para a Flórida e para Houston, no Texas.
As empresas aéreas nesses lugares têm o direito de manter as rotas se o quiserem. Residentes permanentes nos Estados Unidos (detentores de green card) estão isentos das sanções, assim como pessoas casadas com cidadãos americanos. Há ainda algumas outras exceções, como filhos de americanos.
Em reação à decisão americana, o assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, afirmou em uma social que “ao banir temporariamente a entrada de brasileiros nos EUA, o governo americano está seguindo parâmetros quantitativos previamente estabelecidos, que alcançam naturalmente um país tão populoso quanto o nosso. Não há nada específico contra o Brasil. Ignorem a histeria da imprensa”.
Mais cedo, o chanceler Ernesto Aráujo havia anunciado, também em rede social, que os EUA irão doar mil respiradores ao Brasil.
“Em conversa hoje com representantes da Casa Branca, dentro da ótima cooperação Brasil-EUA no combate à Covid-19, recebi a notícia de que o presidente Donald Trump determinou a doação de 1.000 respiradores ao Brasil. Parceria produtiva entre duas grandes democracias”, disse o chanceler em uma rede social.
Os EUA não ainda forneceram o equipamento ao governo brasileiro nem foi comunicado quando o farão. Procurado, o Itamaraty confirmou a doação, mas não disse quando ela irá ser realizada.
O ministério afirmou também que “a restrição americana tem o mesmo propósito de medida análoga já adotada pelo Brasil em relação a cidadãos de todas as origens, inclusive norte-americanos, e de medidas semelhantes tomadas por ampla gama de países”.
Acrescentou também que “a decisão do governo dos EUA baseou-se em critérios técnicos, que levam em conta uma combinação de fatores tais como os casos totais, tendências de crescimento, volume de viagens, entre outros”.
Mais tarde, por meio do Twitter, o Conselho de Segurança Nacional dos EUA confirmou a doação dos respiradores, sem apresentar um prazo para ela ser realizada, e chamou o Brasil de “um dos mais fortes aliados dos EUA no mundo”.
A medida de proibição da entrada de brasileiros foi precedida por diversas advertências. Já no final de abril, o presidente americano disse, durante reunião com o governador da Flórida, que estava considerando a ideia de suspender os voos provenientes da América Latina, e citou especificamente o Brasil.
Na terça-feira, Trump disse que os Estados Unidos ainda consideravam restringir voos e a entrada de brasileiros devido à expansão da Covid-19. O presidente americano então declarou que não queria “pessoas vindo para cá e infectando nosso povo”.
Neste domingo, o conselheiro de Segurança Nacional Robert O’Brien havia adiantado ao programa “Face the Nation”, da rede de TV CBS, que haveria uma decisão sobre suspender a entrada de viajantes que chegam do Brasil.
— Esperamos que seja temporário, mas, devido à situação no Brasil, tomaremos todas as medidas necessárias para proteger o povo americano — disse O’Brien, acrescentando que os brasileiros estão “passando por um mau momento”.
O Brasil se tornou o segundo país do mundo em casos da Covid-19 na última sexta-feira, atrás apenas dos Estados Unidos, e agora tem mais de 347 mil pessoas infectadas pelo vírus e mais de 22 mil mortes, segundo o Ministério da Saúde. A situação brasileira fez que com a Organização Mundial da Saúde afirmasse que América do Sul se tornou o novo epicentro global da pandemia.
Nos EUA, são mais de 1,6 milhão de casos e mais de 97 mil mortes e, embora a pandemia comece a ser contida em estados que impuseram medidas de isolamento social rígidas, como Nova York e Califórnia, a doença continua se alastrando pelo interior.