Agressão verbal de Bolsonaro a repórter foi seguida por fake news de aliados

Um dia após ameaçar um repórter do Globo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar a imprensa durante evento no Palácio do Planalto e usou o termo “bundão” para se referir a jornalistas. Nas redes sociais, aliados do presidente espalharam uma versão falsa sobre o episódio ocorrido no domingo, quando Bolsonaro se recusou a responder uma pergunta sobre depósitos feitos pelo ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

O vídeo editado, acompanhado de uma legenda falsa, compartilhado por apoiadores do presidente foi checada pelo Fato ou Fake. A versão mentirosa afirma que o repórter teria dito: “Vamos visitar sua filha na cadeia”. Na verdade, um ambulante aparece fazendo um convite ao presidente em meio aos questionamentos do jornalista. “Vamos visitar nossa feirinha da catedral, presidente”, afirma o homem, mais de uma vez. A versão mentirosa foi compartilhada primeiro pelo site Terra Brasil Notícias.

A mensagem falsa foi compartilhada por apoiadores de Bolsonaro, como o pastor Silas Malafaia, o blogueiro Allan dos Santos — alvo do inquérito das fake news no STF —, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O filho do presidente, mais tarde, apagou a publicação do seu perfil no Instagram.

Um levantamento do Globo com base em dados da plataforma CrowdTangle, do Facebook, identificou ao menos 169 vídeos na plataforma com a legenda falsa publicados até as 18h de segunda-feira. Ao todo, eles geraram 707,6 mil visualizações. A publicação mais vista, com 25,7 mil, era do deputado federal Éder Mauro (PSD-PA), integrante da CPI das Fake News. Assim como Eduardo Bolsonaro, outros aliados do presidente também apagaram o vídeo após publicarem.

Éder Mauro chegou a comentar na publicação que a imprensa tirou o vídeo de contexto. Há menos de uma semana, o parlamentar foi condenado pelo STF por difamação, após alterar um discurso do ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) que divulgou no Facebook. A versão editada atribuía a Jean Wyllys falas preconceituosas contra negros e pobres.

Reações

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), classificou a atitude do presidente de “reação desproporcional”.

— Claro que, muitas vezes, a pergunta que vocês fazem a gente não gosta. É da natureza humana. Mas não cabe uma reação desproporcional como a do presidente — disse Maia. — Uma frase como essa, vinda do presidente, gera um impacto negativo internamente e externamente.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) enviou representação ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo abertura de inquérito para investigar a ameaça feita por Bolsonaro. O parlamentar também recorreu à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) e pediu o envio de observador internacional “para monitorar a segurança de que se fazer jornalismo no Brasil, à luz da importância de tal função à manutenção de ares democráticos nos estados americanos”. A imprensa internacional repercutiu o ataque do presidente.