Macron agrava crise e afirma que Bolsonaro não está à altura do cargo

PARIS, FRANÇA, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente francês, Emmanuel Macron, em novo episódio da crise diplomática entre Brasil e França devido à questão ambiental na Amazônia, voltou a subir o tom contra Jair Bolsonaro (PSL), dizendo esperar que “os brasileiros tenham logo um presidente que se comporte à altura” do cargo.

Em entrevista coletiva ao lado do presidente chileno, Sebastián Piñera, nesta segunda-feira (26), no âmbito da cúpula do G7, que reúne parte dos países mais ricos do mundo, o chefe de Estado francês afirmou que “é triste” ver ministros brasileiros insultarem líderes estrangeiros.

“É triste, mas é triste primeiro para ele [Bolsonaro] e para os brasileiros”, afirmou o francês. No fim de semana, o titular da Educação, Abraham Weintraub, escreveu que Macron “é apenas um calhorda oportunista buscando apoio do lob agrícola francês”.

“Os franceses elegeram esse Macron, porém, nós já elegemos Le Ladrón, que hoje está enjauladón… [referência ao ex-presidente Lula] Ferro no cretino do Macron, não nos franceses”, publicou na sequência Weintraub, em uma rede social.

Já Bolsonaro, no sábado (24), zombou da mulher do francês, Brigitte Macron, no Facebook, ao endossar um comentário ofensivo feito por um de seus seguidores.

O usuário Rodrigo Andreaça publicou imagem na qual se vê fotografia de Bolsonaro e de sua esposa, Michelle Bolsonaro, abaixo de retrato de Macron junto a sua mulher.

Ao lado das fotos dos casais, há os dizeres: “Entende agora por que Macron persegue Bolsonaro?”. O perfil do mandatário brasileiro respondeu a Andreaça: “Não humilha, cara. Kkkkkkk”, dando a entender que as recentes críticas do francês seriam motivadas por inveja de Michelle.

“Penso que as mulheres brasileiras sentem vergonha ao ler isso, vindo de seu presidente, além das pessoas que esperam que ele represente bem seu país”, afirmou o líder europeu, classificando as palavras de Bolsonaro sobre sua esposa como “extremamente desrespeitosas”.

“Como tenho uma grande amizade e respeito pelo povo brasileiro, espero que tenham logo um presidente que se comporte à altura [do cargo]”, disse Macron.

Ao lado do francês durante a declaração, Piñera se manteve em silêncio e não comentou a briga entre Paris e Brasília –ele é considerado um aliado regional de Bolsonaro.

Macron descreveu os últimos lances da crise diplomática com o Brasil como um “grande mal-entendido”.

“Bolsonaro me prometeu, com a mão no peito [na cúpula do G20, em julho, no Japão], fazer tudo pelo reflorestamento e respeitar os engajamentos do Acordo de Paris [sobre a mudança climática] para podermos fechar o pacto comercial [entre União Europeia e Mercosul]. Devo dizer que ele não falou a verdade”, acrescentou.

“Dias depois, o presidente demitiu cientistas de seu governo”, lamentou o francês, referindo-se ao afastamento do presidente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, após a divulgação de estatísticas sobre o desmatamento que desagradaram ao governo.

Macron lembrou ainda a saia justa a que foi submetido o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, em recente passagem pelo Brasil. Na ocasião, Bolsonaro desmarcou uma audiência com o visitante e, no horário marcado para a reunião, fez uma transmissão ao vivo na internet enquanto cortava o cabelo.

“Ele teve um compromisso urgente no barbeiro quando estava para receber o ministro das Relações Exteriores [da França]”, ironizou o presidente francês.

Curiosamente, ao iniciar a entrevista coletiva nesta segunda, a resposta de Macron à pergunta de um jornalista sobre as rusgas com o governo brasileiro começou com um “sem comentários”.

Mais cedo, em participação num programa televisivo, a ministra da Justiça da França, Nicole Belloubet, havia qualificado como “baixezas” os insultos de políticos brasileiros a Macron e sua mulher. Comentaristas na mídia francesa também falaram em “vulgaridades no limite da decência”.

Brasil e França vivem a mais séria crise diplomática desde a década de 1960, na opinião de diplomatas europeus e brasileiros ouvidos pela reportagem. Os desentendimentos entre os dois líderes se acirraram desde que o brasileiro ameaçou deixar o Acordo de Paris sobre o Clima e o francês reagiu prometendo barrar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul.

Na quinta-feira (22), Macron disse que as queimadas na Amazônia geraram uma crise internacional e convocou os membros do G7 a discutir soluções para o tema.

BOLSONARO RESPONDE

Nesta segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) questionou a motivação dos europeus em querer ajudar a região amazônica.

“Macron promete ajuda de países ricos à Amazônia. Será que alguém ajuda alguém, a não ser uma pessoa pobre, né, sem retorno? O que que está de olho na Amazônia? O que que eles querem lá há tanto tempo?”, questionou, ao deixar o Palácio da Alvorada.

Ao chegar ao Palácio do Planalto, Bolsonaro voltou a criticar o presidente francês, desta vez pelo Twitter.

“Não podemos aceitar que um presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma ‘aliança’ dos países do G7 para ‘salvar’ a Amazônia, como se fôssemos colônia ou terra de ninguém.”

A publicação foi feita na sequência de um outro tuíte, no qual ele disse ter conversado com o presidente da Colômbia, Iván Duque, sobre uma atuação conjunta entre os países que integram a região amazônica.

“Em conversa com o presidente Iván Duque, da Colômbia, falamos da necessidade de termos um plano conjunto entre a maioria dos países que integram a Amazônia na garantia de nossa soberania e riquezas naturais”, publicou.

Embora venha argumentando que outros países queiram interferir na soberania do Brasil, o presidente celebrou a ajuda oferecida por aliados como Israel e EUA.

De forma genérica, disse que outros chefes de Estado demonstraram solidariedade à crise enfrentada pelo Brasil. “Afinal, respeito à soberania de qualquer país é o mínimo que se pode esperar num mundo civilizado.”

Bolsonaro disse também ter trabalhado “24 horas por dia” no fim de semana discutindo a crise das queimadas e afirma ter conversado com líderes de vários países.

“Pessoas, líderes excepcionais que querem realmente colaborar com o Brasil. Não conversei com aqueles outros [não citou quais], que querem continuar nos tutelando”, afirmou.

O presidente se referia ao líder americano, Donald Trump, e ao primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, com quem falou entre sexta (23) e domingo (26).

Israel deve enviar um avião, tropas e tecnologia para ajudar o Brasil a combater os incêndios. A ajuda americana, oferecida na sexta, ainda não foi detalhada. Na porta do Alvorada, o presidente brasileiro não quis responder sobre a ajuda de Israel.

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