O presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo Dias Pereira, agiu como “proprietário” de parte do governo do Rio durante a gestão Wilson Witzel (PSC), segundo o texto da denúncia da PGR (Procuradoria Geral da República) que levou à sua prisão e ao afastamento de Witzel do cargo de governador do estado.
Importante voz no governo Witzel, Everaldo seria padrinho de indicações para cargos em órgãos estratégicos e, segundo o MPF, estaria por trás de negócios com o governo. A procuradora Lindôra Araújo diz, no pedido de prisão ao STJ, que o pastor comandava contratações e orçamentos da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro), do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) e da Secretaria da Saúde.
Tanto Everaldo como o governador afastado foram denunciados por organização criminosa — este ainda responde a outra denúncia por receber propina dos empresários do ramo de saúde Gothardo Lopes e Mário Peixoto.
A defesa do pastor nega sua participação em crimes. “O pastor Everaldo reitera que não faz parte de nenhum ‘grupo criminoso’ e que sempre esteve à disposição das autoridades”, afirmou em nota. Já o advogado de Witzel, Roberto Podval, diz que a nova denúncia contra o governador afastado não mostra provas, apenas “histórias”.
Proximidade
Registros de presença do Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador, mostram que Everaldo — responsável por lançar a candidatura de Witzel em 2018 — “é um contumaz frequentador” do local. O MPF diz que o grupo do pastor faz direcionamento de contratações de empresas e organizações sociais, algumas delas ligadas a Edson Torres.
O empresário, que relatou à PGR ter feito pagamentos em dinheiro vivo a Witzel em 2018, já apareceu associado a Everaldo em trocas de mensagens do ex-deputado federal Eduardo Cunha (MDB).
A denúncia indica que contratos com o governo seriam fonte de recursos para o grupo, que teria Witzel e Everaldo no “no topo da pirâmide”. A tese é rechaçada pelo advogado do governador afastado. “O chefe da organização criminosa é o que menos ganha?”, questionou Podval ao UOL. “Falta prova. Até agora, não vi prova contra o governador.”
Contratos
A investigação atribui a Torres, tido como homem de Everaldo, duas empresas que conseguiram cerca de R$ 5 milhões em contratos com o governo.
A Verde Gestão de Resíduos, gerida pelo genro do empresário, fechou negócio de R$ 3,1 milhões com a Cedae — área que seria de influência de Everaldo. O pastor seria ainda o responsável pela indicação de Hélio Cabral, ex-presidente da Cedae durante a chamada “crise da água” no começo do ano, O pastor também teria tido influência direta nas 54 demissões de funcionários comissionados, como engenheiros e técnicos, ao longo de 2019.
Outra empresa em nome de parentes de Torres, a Magna Vigilância conseguiu R$ 1,8 milhão em contratos com o DER (Departamento de Estradas e Rodagem). Everaldo também ganhou cargos no Detran.
Ainda antes do governo Witzel, a Verde, a Magna e a Dinâmica Segurança — que pertenceu a Everaldo e passou às mãos da família Torres — obtiveram R$ 37 milhões, ou 32% dos pagamentos feitos pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto em 2016. Segundo o ex-secretário de Saúde e ex-diretor desse hospital, Edmar Santos, que fez delação premiada, as firmas lhe pagavam propina para ter “preferência nos pagamentos”.
Santos relatou que Torres disse atuar como “sócio” de Everaldo no PSC. O ex-secretário revelou ainda ter chegado ao cargo após ter sido levado por ele a reuniões com Witzel e o pastor. A legenda, por sua vez, nega ilegalidades. “O partido reitera sua confiança na Judiciário e no amplo direito de defesa de todos os cidadãos”, disse em nota.
Com base da mesma delação, o MPF acusa Everaldo de ter ascendência sobre contratos na saúde também por ele ter nomeado como secretário-adjunto da pasta Gabriel Neves, também preso por suspeita de corrupção durante a pandemia do novo coronavírus.
Cinco núcleos
Além de Torres — que foi solto após ser preso na operação —, a PGR mapeou a existência de outros cinco núcleos ligados a Everaldo. O primeiro seria composto por seus filhos Filipe Pereira, que é assessor de Witzel e ex-deputado, e Laércio Pereira, contra quem há suspeita de lavagem de dinheiro por parte do MPF. Somam-se a eles os nome de Vitor Barroso, apontado como operador financeiro do pastor e responsável pela indicação de organizações sociais que administram hospitais, e o de Marcos Dias Pereira, irmão de Everaldo que controla OS gestora do pronto-socorro do Complexo de Gericinó.
Procurada pelo UOL, a defesa do Pastor Everaldo nega as acusações. “Ele não tem cargo no governo do Rio de Janeiro e nenhuma de suas empresas jamais prestou serviços ao Executivo estadual. O Pastor confia na Justiça e tem fé de que será libertado em breve.”
As defesas de Filipe e Laércio Pereira não responderam às tentativas de contato do UOL.A reportagem não conseguiu localizar os advogados de Edson Torres e de Victor Barroso. Marcos Dias Pereira foi procurado por meio da assessoria e imprensa do PSC, que não localizou sua defesa. Se enviados, seus posicionamentos serão incluídos nesta reportagem.